
“A Lua é mentirosa!” – dizia-me Rogério, defronte ao portão principal do jardim – “Mente-me todas as noites…”. Rogério afirmava a sua convicção com uma expressão bem honesta, mas eu tinha dificuldade em acreditar nas falsas verdades da Lua. A tarde de Inverno que nos rodeava ameaçava acabar. Uma tarde de Inverno com um céu ternamente pintado de cor-de-laranja, uma tarde que carregava vidas e existências, pois continha um falso céu de Verão numa fria tarde de Inverno, uma descarada simulação de felicidade.
Soube então pelo meu comparsa que hoje seria mais uma noite em que ele se encontraria com a Lua para ouvir as suas mentiras. Perguntou-me se também gostaria de ir. Concordei com a cabeça e discordei com o coração. A maior mentira é aquela com que nos tropeçamos a nós próprios.
A noite chegou depressa e ansiosa, sai de casa e encontrei-me com Rogério à frente do mesmo jardim onde estivéramos. Ordenou-me que o seguisse, obedeci. Seguimos por um número de ruas desertas e barulhentas que ensurdeciam qualquer um com os sons da plenitude. Chegámos então a um pequeno descampado rodeado de arbustos e decorado com uma grande árvore ao centro, onde ele me mandou esconder por trás das vegetações e esperar pelo indefinido momento.
Um par de minutos volvidos, reparei que Rogério estava parado a olhar em frente, a falar para o vazio. Falava calma e ternamente, os olhos reflectiam um brilho que eu não descobria, as expressões da sua cara forneciam amor e carinho. De vez em quando, erguia as mãos e desenvolvia um gesto igual ao gesto de uma mãe que acaricia o filho antes deste dormir. E tão depressa quanto começou, o momento de Rogério desvaneceu-se.
Ao seguirmos em direcção a casa, Rogério perguntou: “Ouviste as mentiras da Lua?”. Respondi que não, não tinha ouvido nem observado nada. Esbocei algum ressentimento na minha face, mas Rogério respondeu: “Não te preocupes. Eu pedi-lhe para te contar mentiras hoje à noite.”
Entrei em casa aborrecido e cansado. Subi as escadas até à primeira porta à esquerda e entrei no meu quarto. Atirei-me para cima da cama e adormeci quase de imediato.
A meio da noite acordei repentinamente das profundezas do meu sono. Abri os olhos e olhei para o céu, estendido por detrás da minha janela. Foi então que senti alguém a entrar no meu quarto e olhei para trás. Uma figura feminina, bela e sensual caminhava a passos curtos até à minha cama. Uma figura que me acalmou e me transportou com o olhar para o sítio onde a vida é perfeita. Olhava sorridentemente para mim, com dentes totalmente brancos e perfeitos e com olhos revestidos de pérolas. Deitou-se a meu lado e beijou-me a face. Respondi com um olhar apaixonado e com um beijo na sua face macia. Deitou-se a meu lado e segredou-me um infinito absoluto. E a noite passou assim, com o mundo a desistir de viver lá fora enquanto eu escutava atentamente as mentiras que a Lua tinha para me contar.
1 comentário:
eu até diria que a tua Lua...vestida de mulher, não era mentirosa..mas afinal de contas, é isso mesmo que a Lua é, e as mulheres também =P (e eu sou dessa classe feminina, que conta mentiras, que faz parar mundos..) mas, no meu caso, a minha Lua seria um Homem, sensual, engravatado, dentes brancos, olhos verdes, pele morena...afinal de contas, na nossa vida encontramos sempre Luas que nos mentem e desaparecem quando pensamos que vao crescer...
Este é um daqueles posts que cada um que ler terá uma interpretação diferente, é o bom da metáfora!..
Congratulações bloguistas (uma vez mais desculpa o testamento mas já reparaste que não sou de escrever pouco =/ )
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